segunda-feira, 1 de setembro de 2008

6. PERSONAGENS: ZÉ MALUCO

Zé Maluco! Não era a toa que tinha esse apelido. Do nada, dava de dar socos no ar e gritos horripilantes que assustavam à todos, principalmente as crianças que inocentes e assustadas ainda achavam graça da cena. Era sempre um acontecimento quando isso acontecia, todos corriam para ver o Zé Maluco dar seus golpes de caráter em seus fantasmas ao redor e vez ou outra, nas paredes de concreto; bom era não passar muito perto porque poderia sobrar para os desavisados. Zé Maluco era figura inesquecível na comunidade. Não mexia com ninguém, mas quando estava atacado era perigoso, todos se preocupavam com o pobre. Sempre havia alguém para lhes cortar os cabelos, matar seus piolhos, lhe trazer comida, todos tinham por ele, de certa forma, um carinho especial. O Zé tinha um tique nervoso, além de seus ataques, que era o de esfregar os dedos como quem contasse dinheiro, diziam os mais fofoqueiros que o Zé era rico no passado, muito embora do passado do Zé, poucos ou quase ninguém sabia. Tinha também, o pobre coitado, a insistente mania de pedir, sem olhar para a pessoa, apenas com o esfregar dos dedos e a mão estendida, cigarros para quem passasse, pedia dinheiro também, por vezes, trocados para o vício, sempre sem emitir uma só palavra, mas era só; todos o entendiam, e quase nunca se furtavam do pedido do Zé Maluco. Um certo dia, do seu cafofo, Zé não saíra...estava morto, foi encontrado deitado sobre sua cama imunda de sempre, único móvel que possuía. Zé viveu por muito tempo entre nós, com seu corpo franzino e sempre desnudo, seus pés descalços e unhas tão enormes quanto sujas, com seus pensamentos intransponíveis, impossíveis de penetrar, lá se foi Zé encontrar de vez com os seus fantasmas ...

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